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Marés

  • Mariana Simeão
  • 3 days ago
  • 3 min read

Somos feitas de ciclos. De tempos que começam, amadurecem e se encerram — e, ainda assim, não se repetem. Cada vez que voltamos ao mesmo lugar, somos outras.


Vivemos atravessadas por ciclos externos: o nascer e o pôr do sol, as fases da lua, as estações do ano, os acontecimentos da vida. Mas também carregamos dentro de nós um ritmo próprio, íntimo, misterioso. 


O ciclo menstrual é uma das expressões mais potentes desse movimento interno — ele nos move como marés. Muito além de um marcador da fertilidade, ele é um ciclo hormonal essencial à saúde da pessoa que menstrua. Por meio dele, o corpo produz hormônios importantes para o funcionamento do organismo durante o período reprodutivo — e, apesar do nome, esses hormônios não têm função exclusivamente reprodutiva.


Nossa fase reprodutiva — ou cíclica — começa com a menarca (a primeira menstruação) e segue até a menopausa (a última). No início, é comum que os ciclos sejam longos e irregulares: os ovários ainda estão aprendendo a fazer seu trabalho. Mais tarde, ao nos aproximarmos da menopausa, muitas pessoas sentem desconfortos físicos e emocionais causados pela queda hormonal e pela transição do corpo que deixa de ovular.


Durante o ciclo, produzimos hormônios que nos beneficiam física, emocional e mentalmente. O estrogênio, por exemplo, é o hormônio dominante na fase folicular — que se inicia com a menstruação e termina com a ovulação. Mais especificamente, é o estradiol que estimula a maturação dos folículos ovarianos. Nessa fase, muitas pessoas se sentem mais energizadas, dinâmicas e otimistas. Isso ocorre porque o estrogênio aumenta a libido, melhora o humor e favorece a liberação de neurotransmissores como a serotonina (que promove bem-estar) e a dopamina (ligada à motivação e ao prazer).


Após a ovulação, iniciamos a fase lútea, em que produzimos progesterona. Esse é um hormônio de efeito calmante e moderador de humor, que atua como contrapeso ao estrogênio. Sua principal função é a pró-gestação, ou seja, preparar o corpo para uma possível gravidez. Se o óvulo não for fertilizado entre 10 e 16 dias após a ovulação, o corpo lúteo se desintegra e a produção de progesterona cessa. Essa queda hormonal dá início à menstruação e, dias antes dela, ao que conhecemos como tensão pré-menstrual (TPM).


A TPM pode ser percebida como um momento de introspecção, sensibilidade e criatividade. É comum acessar emoções profundas, ter sonhos vívidos e uma necessidade maior de se recolher. A menstruação, então, marca o encerramento de todo esse ciclo hormonal e convida ao descanso, ao silêncio e à escuta do corpo.


Vivemos em uma cultura que, muitas vezes, medicaliza e patologiza processos naturais do corpo feminino. Por isso, conhecer nossos ciclos e compreender as mudanças pelas quais passamos pode ser uma ferramenta poderosa de autocuidado. Isso nos ajuda a viver cada fase com escolhas informadas, conscientes e respeitosas com o nosso tempo e a nossa natureza.


Honrar os ciclos femininos é reconhecer que o movimento de impermanência é parte da nossa essência. Que pausa também é parte do caminhar. Que há sabedoria no corpo, no cansaço, no desejo, na intuição. 


Permita-se observar seus ciclos com curiosidade e cuidado. Perceba o que nasce, o que morre, o que permanece. A vida pulsa em ondas dentro de você — tão profunda quanto o oceano.



Por Mariana Simeão Ribeiro Moura, Psicóloga e Psicoterapeuta (CRP 04/73775).


 
 
 

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